sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Perfeição!!!


Por volta da década de 50, um vidente disse a Iris Hewson que esta iria ter dois filhos, e que um deles, com a inicial P, seria famoso qualquer que fosse o caminho que seguisse. Destino ou acaso, a 10 de Maio nasceu Paul Hewson, mais conhecido por Bono, que de facto se viria a tornar numa das personalidades mais relevantes do mundo da música e não só. Iris era protestante e Bob, o seu marido, era católico. Numa Irlanda conservadora, isto representava uma anormalidade de grande escala, que marcou desde cedo a educação e a identificação pessoal do jovem Paul. Desde cedo, este revelou uma personalidade forte e curiosa, sempre a questionar tudo o que via. Durante a sua infância travou uma forte amizade com Fionán Harvey (mais tarde conhecido como Gavin Friday) e com Derek Rowen (Guggi). “Nós éramos muito diferentes em vários sentidos. Os nossos interesses eram diferentes” revelou Guggi. No entanto, nada fazia prever a catástrofe que estava prestes a acontecer na vida do adolescente de 14 anos. Iris faleceu devido a um aneurisma cerebral durante o funeral do próprio pai. Isto lançou Paul num furacão de raiva e num certo grau de delinquência. Mais tarde ele revelou que duas semanas da sua vida passaram completamente em branco. Nas palavras de Gavin Friday, “Houve uma ligação. Bono tinha perdido a mãe ainda muito jovem e por isso sentia-se sozinho. Guggi também estava sozinho, tal como eu. Assim nasceu uma amizade.” A escola Mount Temple Comprehensive foi o local onde Paul encontrou a sua banda, a sua esposa e a sua fé. Era uma escola multicultural, muito diferente do regime normal da Irlanda. Foi também nesta altura que Guggi lhe deu o nome Bono Vox. Este seria o seu futuro nome artístico. Tinha alusões a grandezas já que em Latim significa “boa voz”, mas em Dublin, Bono Vox era o nome de uma loja de aparelhos para ouvidos. A atribuição de alcunhas era uma “tradição” entre os membros do Lypton Village, um grupo de amigos que se reunia em Dublin. Ninguém tem a certeza de onde veio esse nome. Gavin defende que o grupo se chamava apenas The Village e só mais tarde, quando se tornou oficial, acrescentou o prefixo. Esta comunidade viu nascer duas bandas, os U2 e The Virgin Prunes, liderados por Gavin e Guggi, um projecto artístico mas também um pouco provocador. No decorrer da década de setenta, o jovem Bono parecia interessar-se cada vez mais pela música. Um dos seus maiores prazeres era participar no grupo de teatro da escola onde poderia subir ao palco e cantar. Foi essa crescente paixão que o fez responder a um anúncio que visava a formação de uma banda. O papel colocado na escola Mount Temple pedia a quem estivesse interessado em fazer parte de um grupo musical para aparecer no fim das aulas na casa de Larry Mullen Jr. Larry, ainda muito jovem na altura, seria o baterista e os restantes teriam que ocupar outras posições. Apareceram também Dave Evans, a quem The Village viria a chamar The Edge e Adam Clayton entre outros. Todos possuíam certas capacidades musicais, embora limitadas, mas o mesmo não se passava com Bono. Este não conseguia tocar guitarra e a sua voz (ainda) não era muito afinada, no entanto, o seu carisma e capacidade para escrever canções poéticas valeram-lhe o lugar de vocalista da banda. Do primeiro encontro da banda, Larry relembra com um sorriso: “Eu mandei durante cinco minutos, quando dizia a toda a gente o que fazer. Mas assim que o Bono chegou, fui logo despedido.” Também foi no decorrer de 1976 que Bono começou a sua relação com Alison Stewart, com quem viria a casar em 1982. Na sua adolescência, Bono já revelava uma certa aversão em relação a religiões organizadas, no entanto, encontrou o seu refúgio espiritual numa seita Cristã com base em Dublin, o Shalom. Edge e Larry juntaram-se a ele e os três fizeram parte desta organização. Desde os primeiros tempos da banda, sempre expressou o desejo de não se tornar numa típica “pop star” e trabalhou para se tornar um cantor cada vez melhor. Em palco, o seu carisma era cada vez mais evidente, costumava ajoelhar-se em frente à guitarra de The Edge, como se quisesse absorver os sons do instrumento. Já parecia fascinado com tudo o que representava estar em palco, e já se mostrava confiante que a sua música poderia mudar vidas. Sobre um dos primeiros concertos, Neil McCormick recorda: “Os miúdos estavam aos berros. O Bono saltava e fazia vários movimentos. Ele não era um grande cantor. Ele tornou-se num grande cantor porque tinha personalidade.” Era já evidente que ele não encaixava no padrão das típica estrelas de rock. A sua voz poderosa evoluiu ao longo dos anos demonstrando uma versatilidade raramente ouvida em bandas de rock: no início da década de 80, assistia-se a uma voz de um adolescente rebelde e ansioso em álbuns como “Boy”, “October” e “War”; no final dessa mesma década, a voz de Bono era cheia de raiva e ao mesmo tempo paixão, nos álbuns “The Unforgetable Fire”, “The Joshua Tree” e “Rattle And Hum”. Frequentemente, “mergulhava” no meio da multidão, subia colunas do palco com uma bandeira branca, entre outras acções que por vezes preocupavam o resto da banda, tal como referiu recentemente Larry “Ele não se importa. E isso é um dom incrível. Mas também é uma autêntica praga! Nós preferíamos que ele tivesse mais cuidado.” Em 1984 ele fez parte da Band Aid ao gravar o tema “Do They Know It’s Christmas”, com a finalidade de obter ajuda para aliviar a fome na Etiópia. Um ano mais tarde, a banda participou no Live Aid, um concerto do qual fizeram parte alguns dos mais prestigiados artistas da época, cujos lucros também reverteram para caridade. O contacto físico que Bono tanto gosta de ter com o seu público foi bem evidente durante a actuação dos U2 neste evento, quando o vocalista saltou do palco para dançar com uma mulher da audiência. Um momento que dificilmente será esquecido. No entanto, enquanto que a maioria dos participantes do Live Aid deram apenas o seu contributo musical, Bono e a sua esposa Ali decidiram ver com os próprios olhos o que era realmente a fome em África. Deste modo, viajaram para Wello, na Etiópia, e trabalharam num orfanato durante seis semanas. “Quando saíamos da nossa tenda podíamos contar os corpos de crianças mortas e abandonadas.” A experiência marcou para sempre a vida do casal que nunca mais virou as costas a esta causa. No final dos anos 80, quando o fervor político dos U2 ameaçava tornar-se numa caricatura, a banda rumou a Berlim com o objectivo de produzir um som inovador. Como resultado, Bono também alterou a sua imagem e a sua presença em palco. Mudou o cabelo, passou a usar óculos escuros grandes e característicos muito regularmente e o seu guarda-roupa passou a ser constituído principalmente por calças e blusão de cabedal negro. Este visual era característico do alter-ego The Fly, a derradeira estrela do rock dos concertos da ZooTV. Nesta digressão também surgiu Mirrorball Man, uma paródia aos evangelistas da televisão, mas sem dúvida que o alter-ego mais significativo foi Mr. MacPhisto. Este usava um fato dourado, botas brilhantes e cornos vermelhos e era uma versão corrupta de The Fly no futuro. No entanto, apesar de toda a mudança, no fundo Bono ainda era um idealista furioso. O método de o demonstrar é que pode ter mudado. Durante esta época Bono também mostrou o dom de mostrar o seu respeito pelos artistas que admira, tal como demosntrou no seu discurso comovente aquando da introdução de Bob Marley noRock ‘n Roll Hall Of Fame e no seu tributo a Frank Sinatra nos Grammys de 1994. Mas nem tudo foi positivo para Bono: o rigor das digressões e o acto de cantar noite após noite revelaram-se prejudiciais à sua saúde, especialmente durante a gigantesca PopMart em 1997. De facto, estes factores combinados com o hábito de fumar levaram ao aparecimento de uma infecção nas vias respiratórias que teve um efeito desastroso na sua voz. Felizmente, este problema pôde ser corrigido após cirurgia. Para além dos U2, Bono sempre se dedicou a outras causas e ao longo dos anos foi-se tornando cada vez mais num activista, e conseguiu que a ele se juntassem inúmeras pessoas entre as quais personalidades do mundo da música e cinema. “Bono conseguiu mudar a mentalidades de pessoas que você nem imagina” disse o Professor Jeffrey Sachs da Universidade de Harvard. Recentemente juntou-se ao projecto Jubileu 2000 para acabar com a dívida do terceiro mundo. Esta causa fez com que se envolvesse com Jacques Chirac, Bill Gates e Kofi Annan e fez também com que se encontrasse com o Papa João Paulo II. Como reconhecimento do seu trabalho já recebeu vários prémios entre os quais o Free Your Mind Award da MTV das mãos de Mick Jagger. Depois da Elevation Tour que terminou em 2001, Bono tornou-se ainda mais numa figura pública. Desde então viaja frequentemente para África fazendo campanha na luta contra a SIDA. Esteve presente na Casa Branca, e George Bush afirmou ser ele a razão pela qual os EUA estavam a doar 5 biliões de dólares para a ajuda internacional. Apesar dos privilégios do seu estilo de vida, Bono continua a ter uma personalidade generosa e genuína que impressiona tanto os amigos como os fãs, o tipo de pessoa que poderia estar numa sala cheia de celebridades e sair para falar com fãs sobre música. Vive com Ali e seus quatro filhos em Dublin. Assim, nas palavras de Paul McGuiness “Quando eu conheci o Bono, pensei que ele era descendente em linha directa de Mick Jagger, Frank Sinatra, Elvis Presley e de todos os grandes vocalistas que eu já vi. A minha mulher diz que ele é uma “força da natureza” e isso foi o que ele demonstrou ao longo dos anos. Mesmo quando era miúdo tinha uma grande proporção de charme e carisma. Se ele é tão agradável e divertido como parece? Eu penso que ele vive a vida em cheio e goza-a ao máximo.” por Áulus Silva <3

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